Um ano em guerra

Hoje não estou mais preocupado em ser poeta ou filósofo, escrever parábolas criativas ou histórias de dor, hoje eu quero esquecer tudo que existe e conversar com meu amor.

Desculpe cair no clichê do trocadilho mais tosco que existe, mas tive que fazer, até por que, pra mim, guerra tem um significado muito importante e único, capaz de resumir minha vida por inteiro, antes e depois de ter te conhecido. “This is War”, é esse o nome, por coincidência ou não, do melhor álbum da minha banda preferida, um estilo musical que entra em ressonância com a minha alma, com tudo que eu já passei ou pretendo passar, cada pedaço de letra, cada ritmo da bateria e cada grito da multidão ao fundo, conseguem me levar pra longe e lembrar os bons tempos, e os maus também. Guerra foi o que eu sempre vivi, não uma batalha, mas uma luta interminável, cheio de obstáculos e incentivos, vitórias e derrotas, mas sempre foi muito bom viver assim, independente de tudo, psicoadaptado à dor, insensível, eu aprendi.

Um ano atrás essa história mudou, a guerra acabou e eu já havia derrotado todos os inimigos, sem objetivos, sem lugar para onde ir, sozinho num campo de batalha regado com meu próprio sangue e dos corpos dos meus demônios, quase um “Andrei decide morrer”. Quando parecia tudo findado, sem gostou ou cor, um mundo dominado sem valor, mas valeu percorrer o caminho o único problema era que eu não havia definitivamente decidido aonde chegar, e eu simplesmente cheguei num fim, sem resultado, um abandono. Quando o tempo havia parado eu encontrei meu Argus Apocraphex, o que mudou tudo, matou tudo e criou tudo de novo, diferente, mas só diferente o suficiente pra me despertar, perceber que o caminho não foi em vão.

Nascer, aprender tudo de novo, da forma correta, com amor. Tocar, ver e ouvir Deus como nunca antes, e entender que nós somos deuses também. Purificar, essa é a palavra certa, tudo de bom que havia em mim melhorou, tudo de ruim não existe mais, e mais coisas boas ainda vêm e viram por aí. Isso nos traz grandes responsabilidades com todo o resto do mundo, por sermos tão privilegiados e bons, temos o dever de perpetuar isso, e passar adiante, não só pros amigos e pessoas que amamos, mas pros que sentem coisas ruins e os que nem conhecemos. Porém a principal responsabilidade é conosco, pois, apesar da evolução que temos juntos, ficamos um pouco mais frágeis e dependentes da felicidade do outro, mais livres para escolher se prender no outro, no tempo que quisermos, temos que cuidar de duas pessoas ao mesmo tempo, e as vezes largar mão de uma e segurar a outra com mais força, pois se ela levantar poderá nos segurar também.

Um ano que equivale a mil, vivemos ele com todas nossas forças e vontades, exagerando sem efeitos colaterais, felizes como nunca. Só 365 dias se passaram e isso parece pouco para a história da humanidade, mas ela ainda não sabe do que fomos capazes nesse intervalo de tempo, já aprendemos que não vale a pena brigar ou ter ciúmes, que a liberdade é o melhor presente pra qualquer data comemorativa, que somos os remédios para nossos vícios, que ser feliz é simples e basta querer, que nada no mundo faz sentido sem amor, e que somos a prova que a vontade do ser humano é a coisa mais forte que existe.

Nada na minha vida foi decidido por mim, se não foi completa escolha dos pais, familiares ou amigos, teve grande influencia destes, eu nunca escolhi sozinho. Até aquele momento, você foi a única coisa que eu definitivamente decidi, escolhi e direcionei toda minha vontade, infinita, para dar certo, e por ser assim és o sentido da minha vida. Universidade, profissão ou planos pro futuro não existem, são folhas que o vento leva fácil, e traz fácil, na direção que quiser, você é tudo, cada pensamento e ação, és a árvore que segura todas as folhas e só fica cada vez mais bonita quando elas caem e brotam de novo, e isso me faz bem como nada me faz. Essa escolha principal me fez mais livra para continuar escolhendo, pensando no bem da primeira escolha que fiz, e assim vou declarando independência de tudo que não faz sentido pra mim e construindo minha vida de acordo com o melhor que posso fazer e mais feliz podemos ficar.

Eu queria pedir desculpa por tudo que já fiz de ruim que te fez sofrer, mas acho que você me olharia nos olhos com uma cara de quem vai me dar uma lição, e falaria que não preciso pedir desculpa, assim como você, pois tudo que fizemos nos trouxe até aqui, e talvez sem esses obstáculos fosse tudo diferente e menos perfeito do que é. Eu sinto orgulho de ter cometido cada “erro” ou descuido, e se eu soubesse que chegaria aqui cometeria tudo de novo. Na verdade não há erro se não nos arrependemos, e eu não me arrependi de até ter lutado, no começo, contra tudo isso, negar o que sentia e achar que com simples razão controlaria tudo.

Decidi que não quero te falar o que achei de nossos momentos esse ano, não quero dizer meu ponto de vista e narrar os melhores e piores, não quero perguntar se você lembra um ou outro, eu até tentei e comecei a escolher e tudo mais, mas eu percebi que não adianta. Se a gente não lembrar é por que não vale a pena lembrar naquele momento, talvez lembraremos um dia, assim como não temos como decidir quais foram melhores e piores nem narrar do nosso ponto de vista como foi, pois todos momentos foram únicos e perfeitos do jeito que foram, lembrar e tentar escolher vai acabar apagando essa perfeição, devemos ter a lembrança dos momentos e não poder recordá-los lendo num papel ou vendo uma foto. A vida é feita de momentos, e como fazemos um ano de vida, quero só te pedir que quando estiver feliz ou triste, ocupada ou entediada, com raiva ou saudade, te peço que lembre um momento, qualquer momento, não quero que se esforce pra lembrar o melhor, ou o que preferir, lembre do mais fácil de lembrar, do mais próximo, aleatoriamente, sem olhar. Certeza que o seu subconsciente vai te levar no melhor momento pra você lembrar naquela hora, o que mais fará sentido, mesmo você não entendendo de primeira. Por isso eu peço, sempre que puder, esqueça tudo e deixe seu subconsciente te guiar.

Lembra?